12/05/2015

Resenha: O Estrangeiro

Livro de Albert Camus



Neste livro, o escritor e filósofo argelino Albert Camus, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1957, narra a história de Mersault, homem aparentemente insensível levado a julgamento após matar um árabe.

A sociedade toma por base o sistema de crenças e as manifestações exteriores de um indivíduo para julgar seu caráter, intenções e sentimentos.

A despeito das inúmeras e profundas análises já feitas a respeito desse livro, eu diria que O Estrangeiro basicamente afirma a frase acima.

Alguns dizem que esse livro é superestimado; outros afirmam que é uma das melhores obras já escritas. Bem, eu gostei. Bastante até! Não porque a história é aclamada, mas porque ela, de forma interessante e inteligente, leva o leitor a fazer indagações relevantes. Eu me perguntei: é um homem como o protagonista Mersault que se faz estrangeiro ou é a terra que se faz estranha a ele? Quem precisa compreender quem? Seria Mersault um ser insensível ou simplesmente sereno frente à vida? Na verdade, insensíveis não seriam as sociedades, acostumadas a esmagar os indivíduos sob seus padrões e convenções?

O livro se divide em duas partes. A primeira é essencialmente uma narrativa factual; e o leitor pode até se sentir lendo um relatório. Mas, seja como for, nada ali é dito à toa. Cada mínimo movimento de Mersault e cada situação vivida por ele serão lembrados e analisados na segunda parte, trecho do livro onde o leitor encontrará a "ação" da história e o espírito filosófico de Camus.

"Darei a prova do que afirmo, meus senhores, e dá-la-ei duplamente. Sob a crua claridade dos fatos em primeiro lugar e em seguida sob a iluminação sombria que me será fornecida pelo perfil psicológico desta alma criminosa", disse o procurador encarregado da acusação de Mersault. Em A Peste (resenha aqui), Camus expôs precisamente, na voz do padre Paneloux, a forma (torta) de pensar dos cristãos diante das calamidades; do mesmo modo, o autor soube, em O Estrangeiro, traduzir perfeitamente a maneira de raciocinar da Justiça e da sociedade quando confrontadas por personalidades como a de Mersault. Acompanhar a lógica acusatória do procurador é uma satisfação para o leitor, mesmo que ele discorde do que diz o personagem. No julgamento fica claro que às vezes a verdade pode, sim, parecer ridícula; tão ridícula, que soa irreal, absurda.

Nas últimas páginas, surge o velho conflito entre razão e religião; no caso, entre materialismo e espiritualismo. A meu ver, outro ponto alto de um livro que, independentemente de ser ou não genial, vale muito a pena ser lido.

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